segunda-feira, 19 de julho de 2010

Fernando Pessoa recitado

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Interessante interpretação de Jô Soares para os poemas de Fernando Pessoa - em sua maioria com o heterônimo Álvaro de Campos- destaque para a poesia abaixo, ouvido ao gosto de um bom vinho do porto em alguma mansarda qualquer...


Começa a haver meia-noite, e a haver sossego,

Por toda a parte das coisas sobrepostas,
Os andares vários da acumulação da vida...
Calaram o piano no terceiro andar...
Não oiço já passos no segundo andar...
No rés-do-chão o rádio está em silêncio...

Vai tudo dormir...

Fico sozinho com o universo inteiro.
Não quero ir à janela:
Se eu olhar, que de estrelas!
Que grandes silêncios maiores há no alto!
Que céu anticitadino!
—Antes, recluso,
Num desejo de não ser recluso,
Escuto ansiosamente os ruídos da rua...
Um automóvel — demasiado rápido! —
Os duplos passos em conversa falam-me...
O som de um portão que se fecha brusco dóí-me...

Vai tudo dormir...
Só eu velo, sonolentamente escutando,
Esperando
Qualquer coisa antes que durma...
Qualquer coisa.

Um comentário:

  1. Escreve mesmo. É o melhor tipo de contato que se pode ter em vida...

    Abraço.

    Bia Madruga.

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