terça-feira, 27 de julho de 2010

Efeito Manoel de Barros

Conheci Manoel de Barros no meu mestrado, ou melhor, ouvi falar sobre a sua poesia que ele definia como o criançamento da palavra. Eu estudava Fernando Pessoa, imerso que estava e me perdia em labirinticas salas de espelhos, ruas antigas, madrugadas e doses de vinho do Porto - que inclusive ofereci no dia da minha defesa, em um feito que provavelmente foi único na UFRN: beber alcool, oferecê-lo dionisiacamente ao mesmo tempo em que se defendia uma dissertação de mestrado - Pois bem, passei um tempo sem me atrever a ler este outro grande poeta, poeta já antigo, nascido em 1916, admirado por Guimarães Rosa  e ainda hoje em produção. Sem dúvida um dos mais originais poetas que o mundo já teve. 
Enfm, soube de uma edição de 2010 a reunir a sua poesia completa. A idéia me pareceu espantosa e de imediato me lembrei do conto "O livro de areia",  de J.L. Borges , livro infidável e mutante a cada folhear. Depois de hesitações e sabotagens íntimas finalmente o adquiri, o guardo com todo o respeito de um volume que me acompanhará por muitos anos e quem sabe com a minha inevitável velhice, mas o que eu mais admiro é que não preciso dele, quando o folheio me entorpeco e me estimula a fazer tantas viagens e escrituras que ele parece me pegar pela mão e apontar o meu olhar para alguma coisa ao mesmo tempo que remexe as minhas reminiscências, criançamentos, lembranças e sonhos. É o efeito Manoel de Barros.

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