segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Saudades também...

Apenas dois dias e estarei em Natal, uma das músicas mais emblemáticas de suas belezas é esta de Pedrinho Mendes que é uma verdadeira pintura nostalgica...

Esquina do Continente


Areias e pedras se encaixam na praia do forte
O rio é tão grande é norte estrela dos magos
Coqueiral, nas palhas a luz de uma lua
E o farol, mãe luíza uma luz que é tão sua

A ponta é uma negra que aponta a visão de um quadro
Passeio costeira, serpente de dunas e mares
O lual arrasta uma festa marinha
Por-do-sol potengi, ai de mim sem redinha

O sol tá praqui como a lua nasceu prá são jorge
O céu vai se abrir quando o azul descobrir o avião
O barco no mar sobre a linha horizonte da terra
Bonfim, a lagoa, extremoz, água pura na mão

Praia de touros, ponta do calcanhar
Uma esquina, uma fronteira no mar

Ô ô ô ô ô ô (uma esquina no mar)
Ô ô ô ô ô ô (uma fronteira no mar)

E o sol também muriú (uma esquina no mar)
Areal de genipabu (uma fronteira no mar)
E o mar de maxaranguape (uma esquina no mar)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Minas, uma vez minha

Saudades de Minas

Tantas esquinas
de pedra, Minas!

E se hoje não há
O antigo de ruas do teu andar
É que tudo se apaga, desmancha
Pelas ondas do mar.

E se todo cais é uma saudade de pedra
Como já acenou o lusitano poeta
Tuas ruas, casas, igrejas e montanhas
são feitas de vontade de voltar


Só agora entendo
que se Minas Gerais
Não tem mar
O mar não tem Minas Gerais

domingo, 1 de agosto de 2010

O macho e a capanga

Esse artigo do Xico Sá é em homenagem à famosa capanga que o meu pai uma vez usou na vida, ao pente de dedo do meu avô - que quase arrancava o coco da gente - e que eu uma vez orgulhosamente ganhei de presente de aniversário). São tempos idos de machão que não voltam nunca mais.  
OBS: A capanga é tipo uma carteira gigante, guardada geralmente debaixo de suvaco e era sonho de consumo juvenil de um adolescente hiberbe feito eu, um verdadeiro rito de passagem para o macho.




Por Xico Sá . 01.08.10 - 10h37

MODOS DE MACHO – A capanga e a vida

Ao me deparar esta semana, em um banheiro de um moderno restaurante de São Paulo, com dois homens, aparentemente héteros, discutindo sobre técnicas depilatórias e cremes básicos para uma nécessaire masculina, me veio ao cocoruto, imediatamente, a velha imagem da capanga e o kit máximo permitido por um macho-jurubeba.
Como bem sabemos, amigo, o macho-jurubeba é o macho-roots, a criatura de raiz, o sujeito tradicional e quase em extinção nos tempos modernos. Um personagem que nos parece nostálgico e, de algum modo, folclórico, mas perfeito para nos revelar o universo dos marmanjos até meados nos anos 1990 – quando Deus fez, de uma costela do David Beckham, o ser doravante conhecido como metrossexual.
Vasculhemos, pois, a capanga, usos, costumes higiênicos e os arredores antropológicos deste predador do nosso paleolítico. Era, sim, naturalmente vaidoso o macho popular brasileiro. Aqui encontramos os vestígios: um espelhinho oval com o escudo do seu time ou uma diva em trajes sumários, um pente nas marcas Flamengo ou Carioca, um corta-unhas Trim ou Unhex, um tubo de brilhantina, um frasco de leite de colônia, uma latinha de Minâncora e outra de banha de peixe-boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou cabruncos.
Em viagens mais longas, barbeador, gillette, pedra-hume –o seu pós-barba naturalíssimo, nada melhor para refrescar a pele e fechar os poros. Alguns pré-modernos e distintos se antecipavam aos novos tempos usando também Aqua Velva, a loção para o rosto utilizada pelos “homens de maior distinção em todo o mundo”.
Vemos aqui também, no kit do macho-jurubeba, emplasto poroso Sabiá, pedras de isqueiro com a marca Colibri e um item atual até nossos dias, o polvilho antisséptico Granado, afinal de contas a praga do chulé é atemporal e indisfarçável. O lenço de pano nem se comenta, não podia faltar nunca.
Ainda no capítulo do asseio corporal e dos bons tratos, façamos justiça às moças. Elas adoravam tirar nossos cravos e espinhas, atitude hoje cada vez mais rara – se alguma o fizer, amigo, a tenha na mais alta conta, a abençoada filha de Eva te ama mesmo.
Objeto de investigação e estudo do caboclo pré-metrossexualismo, a capanga dos mais espertos continha ainda um canivete e, para eventuais dores de macho, cachetes de Cibazol.
Aí, porém, já saímos um pouco dos cuidados estéticos e vasculhamos outros armarinhos de miudezas do vasto museu deste homem que – para o bem ou para o mal – já era.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Egocínio ou Egocínismo

E se tu não sêdes

Se tu não cedesses à vida mais?!

E se todos os seres numa marcha se suicidassem?!

Precipitassem aos abismos?!

Encolerizassem as feras oferecendo-se para serem devorados?!

Prendessem a respiração para ter com as abissais profundezas?!

E se desfilasses de salto alto nos desfiladeiros vertiginosos?!

Se não suportasses a taquicardia ao despertar de um sonho medonho?!

Se projetasse a inércia de tua carne numa veloz cidade qualquer?!

E se tu fosses apenas descuidado de si

Diariamente descuidado de si

Vivendo sem o perceber, nem ao menos desconfiar de

Uma outra forma de existir?

Dá tempo, neste átimo de vida, de ser tu?!

As Ilhas e Ilha das Couves


Próxima viagem de caiaque...

Efeito Manoel de Barros

Conheci Manoel de Barros no meu mestrado, ou melhor, ouvi falar sobre a sua poesia que ele definia como o criançamento da palavra. Eu estudava Fernando Pessoa, imerso que estava e me perdia em labirinticas salas de espelhos, ruas antigas, madrugadas e doses de vinho do Porto - que inclusive ofereci no dia da minha defesa, em um feito que provavelmente foi único na UFRN: beber alcool, oferecê-lo dionisiacamente ao mesmo tempo em que se defendia uma dissertação de mestrado - Pois bem, passei um tempo sem me atrever a ler este outro grande poeta, poeta já antigo, nascido em 1916, admirado por Guimarães Rosa  e ainda hoje em produção. Sem dúvida um dos mais originais poetas que o mundo já teve. 
Enfm, soube de uma edição de 2010 a reunir a sua poesia completa. A idéia me pareceu espantosa e de imediato me lembrei do conto "O livro de areia",  de J.L. Borges , livro infidável e mutante a cada folhear. Depois de hesitações e sabotagens íntimas finalmente o adquiri, o guardo com todo o respeito de um volume que me acompanhará por muitos anos e quem sabe com a minha inevitável velhice, mas o que eu mais admiro é que não preciso dele, quando o folheio me entorpeco e me estimula a fazer tantas viagens e escrituras que ele parece me pegar pela mão e apontar o meu olhar para alguma coisa ao mesmo tempo que remexe as minhas reminiscências, criançamentos, lembranças e sonhos. É o efeito Manoel de Barros.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Suassuna recita as suas poesias


A Maureen diz que, com certeza, quando envelhecer eu deva ficar com o naipe deste senhor, rs. Amigos, pouca gente conhece, ou até mesmo desconfia que Ariano Suassuna escreveu poesias. A verdade é que ele não só escreveu como fez um albúm, ele mesmo recitando suas poesias. É algo bastante raro, tenho já a algum tempo e disponibilizo o link para voces baixaram e ouvirem. Simplesmente imperdível:

Um encontro inusitado

Um encontro inusitado: Eu, Drummond e o Mestre Yoda.
(Copabana, Maio 2010) 

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Fernando Pessoa recitado

Link para baixar o albúm

Interessante interpretação de Jô Soares para os poemas de Fernando Pessoa - em sua maioria com o heterônimo Álvaro de Campos- destaque para a poesia abaixo, ouvido ao gosto de um bom vinho do porto em alguma mansarda qualquer...


Começa a haver meia-noite, e a haver sossego,

Por toda a parte das coisas sobrepostas,
Os andares vários da acumulação da vida...
Calaram o piano no terceiro andar...
Não oiço já passos no segundo andar...
No rés-do-chão o rádio está em silêncio...

Vai tudo dormir...

Fico sozinho com o universo inteiro.
Não quero ir à janela:
Se eu olhar, que de estrelas!
Que grandes silêncios maiores há no alto!
Que céu anticitadino!
—Antes, recluso,
Num desejo de não ser recluso,
Escuto ansiosamente os ruídos da rua...
Um automóvel — demasiado rápido! —
Os duplos passos em conversa falam-me...
O som de um portão que se fecha brusco dóí-me...

Vai tudo dormir...
Só eu velo, sonolentamente escutando,
Esperando
Qualquer coisa antes que durma...
Qualquer coisa.

Aforismos - Parte II

A visão encharcada de sensações é inimiga da memória porosa ao esquecimento. No fim, como diz Milan Kundera, a vida é condicionada por escolhas irrevogáveis e acontecimentos fortuitos. A vida humana balouça ao sabor deste vento.

                                                                   ...

A vida acontece ali também, onde não me vejo. É demasiada gente para se viver, imenso palco de luta no pequeno cenário do dia a dia avistado do lado de fora das casas, observado nas luzes dos navios ao longe, notado no brilho do olhar do passante.

                                                                 ...

A palavra não apenas faz vacilar a ausência, torna presente o inalcansável pelo limite dos sentidos, ou melhor, reveste de sentido, quase sempre para além do que se é.

                                                                 ...

Alguns namoros e enlaçamentos existenciais são como picolés de chuchu: frios e com gosto de nada!

                                                                ...

Se a fidelidade do cão se revestisse do blasé felino, aí sim, ele seria a melhor companhia do homem.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Hesitação

Estou a pensar...
Num poema que valha à pena
Numa poesia nunca dita
que valha, ao menos, a tinta

Talvez à maquina de escrever...
Muito raro, quase não se vê.
E se...
Computador

Computa_ _ _dor
Incifrável ...
Indecifrável ...

Mortal pecado
Teclado
nem me valho

Não!
Sem extensões de mim!!!

(Meus dedos só servem para apontar onde ir)

Ahhhhhh

A preguiça e
a pieguice

Que vencem
A escrita!

(Homenagem à poesia "Adiamento" de Fernando Pessoa)

Homenagem ao Amigo Saramago


                Vá em paz, amigo. Obrigado pela companhia constante.
                              Saramago (1922-2010)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O naufrago e a solidão do mundo








“Todos os meus anos nessa ilha desolada, sem qualquer esperança de resgate. Mas estou vivo e não me afoguei como todos os meus companheiros do navio. Eu sou Robinson Cruzoé.                   Para onde quer que eu olhe na minha prisão, nos olhos da minha mente, é o paraíso que eu perdi. Minha única escapatória é dentro da memória de uma vida que mais parece com um sonho se desvanecendo. Hoje estou preparado. E nunca desisti do mundo."
Tenho me demorado, mais do que necessário, na leitura deste clássico que fugiu da minha adolescência: "Robinson Cruzoé" do Daniel Defoe. Talvez esse lapso na minha formação de aventureiro tenha se dado pela falta de ilhas na geografia do litoral de Natal. Não visto, não quisto, ou pelo menos apenas sonhado. Hoje cerco-me delas em São Sebastião e mal passe um dia se que eu tenha meditado sobre estes exílios.  Tenho o projeto de elaborar entrevistas com alguns moradores de ilhas e sondar este arquétipo que nos toca tão profundamente.
A densidade da solidão de Cruzoé e as vicissitudes da vida prática na ilha, apartado de todo o convívio humano e lutando com a razão para não perder a humanidade é com certeza compartilhada com o leitor atento. É uma aventura humana, ou melhor em tornar-se humano na sua prisão que não tem grades, são intangíveis horizontes que o cercam e insondáveis profundidades do mar. Estes abismos da imaginação, esta quase liberdade o deixa a ponto de enlouquecer.
Encontrei estes links de uma série de uma temporada que me pareceu muito bem feita(assisti somente aos quatro primeiros episódios), apesar da solidão do Cruzoé ter sido desconsiderada nos primórdios de seus anos na ilha, enfim, espero que apreciem.
A seguir a sinopse da série:
Produção da NBC em associação com a BBC inglesa, a série tem como base o livro "Robinson Crusoe", o náufrago que viveu em uma ilha por quase 30 anos. A narrativa da série irá apresentar a história de Crusoe em dois tempos. O momento presente, em que ele tenta sobreviver na ilha, e o tempo passado, no qual vemos sua história e seus relacionamentos antes do naufrágio.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Aforismos hodiernos

Aforismos hodiernos é uma compilação de pensamentos que sobreviveram ao longo do tempo. Digo sobreviveram por causa das inúmeras vicissitudes da criação sejam elas: o desassossego que não se transmuta em escritura, os partos natimortos do pensamento, a preguiça mental da elaboração e por fim a doença dos olhos, como o dizia o pastoreador de palavras e mestre Alberto Caeiro, "Pensar é s´tar doente dos olhos". Vencido estes infatigáveis obstáculos dou vida a estes momentos, alguns tardios outros obsoletos, mas em algum momento meus.


Absolutismo Psicológico


Para mim só existem dois tipos de homens: os de velas içadas e os de âncoras. O que implica que navegar é imprecisamente preciso.


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                 “Um charuto, ás vezes, é apenas um charuto”
                 Freud, a desdizer o símbolo fálico de seu objeto)




“Pessoa em flagrante delitro”
(Fernando Pessoa ao emborcar suas doses diárias de conhaque macieira)






“Ama teu próximo como a ti mesmo”
(Jesus Cristo)


Moral da história: Um gênio é um homem virtuoso em seus vícios.
 

 
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Para alguns homens meça as verdades, para bem poucos lance-as à cara, para a grande maioria deixe-as adormecer na mais profunda escuridão.

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Não se faz um Hamlet sem quebrar os ovos!


“Ambos são os estados de diferenciação do ser: o tempo, o sucessivo; o espaço, o contíguo”. Nunca mais fui o mesmo depois desta frase do Karl Jaspers. Assim como Schopenhauer aponta que musica prescinde o instrumento que a pudesse tocar, ou seja, ela como idéia e existência passa muito bem sem aquilo que a produza e dispensa até a materialidade do espaço para se fazer.
Inquietou-me, deveras, que o homem, este ponto zero do eixo das “descordenadas” e do eixo das “abissais” talvez tenha sido um acorde desafinado e fatigadamente sucessivo de um instrumento ainda a se inventar.


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O amor aquiesce os desassossegos do coração, apascenta a alma e colore o olhar. E quem disse que o amor a uma pessoa é o único amor possível?!

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Tabacaria

Tabacaria (pequeno trecho)

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Álvaro de Campos, 15-1-1928 )